nascemos em poemas diversos
destino quis que a gente se achasse
na mesma estrofe e na mesma classe
no mesmo verso e na mesma frase
(Paulo Leminski, in CAPRICHOS & RELAXOS p.86 - 1985)
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o rio na janela, por Sergia A. |
No longo trajeto entre o Ahu e o aeroporto, o taxista puxa assunto para quebrar o silêncio da manhã gelada:
- Retornando para casa?
- Sim.
- Para Paris?
Surpreendo-me com a ousadia da pergunta, já que não tenho traços e nem sotaque franceses. Olho para minha roupa e contenho-me para não dar uma risada.
- Não. Para Teresina, no Piauí - Respondo no tom explicativo que me habituei a falar, para evitar o constrangimento em uma questão geográfica simples: as capitais do nordeste que muita gente boa do sul e do sudeste faz questão de dizer que desconhece.
- E o que tem de bom por lá?
- Teresina é uma cidade linda, o único defeito é aquele calor de rachar. - Dou a resposta clássica, treinada, para evitar o comentário sarcástico que normalmente vem em seguida.