quinta-feira, 20 de abril de 2017

Sobre desvios e ilusões



a margem, por Sergia A.


antes de alcançar a altura do espelho, foi na água que se viu refletida. contam que não se conteve. em um salto buscou o abraço na lâmina fria para encontrar sobre a pele as marcas do apressado resgate. não fazia ideia de si. era no outro, ao alcance da mão, que se reconhecia.

cresceu sem água na torneira, ou ducha no banheiro. do olho d'água lhe chegava os goles. da cacimba e das chuvas os banhos. do recolhido nas bicas dos telhados, a alvura dos lençóis. da aurora, o véu sobre o corpo delineando contornos em espelho de cristal. 



cercada de rios e vidros, quando a chuva cai sobre a noite diz ser preciso parar e ouvir. é no tímpano que a água ressoa e faz brotar os espelhos. lava e leva tudo no seu fluir eterno. como no primeiro dia, ainda crê que renasce do emergir.  e, que no reflexo da manhã haverá o outro a se repetir em breves desvios.


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Obrigada pela visita! Volte sempre.