quinta-feira, 20 de abril de 2017

Sobre desvios e ilusões



a margem, por Sergia A.


antes de alcançar a altura do espelho, foi na água que se viu refletida. contam que não se conteve. em um salto buscou o abraço na lâmina fria para encontrar sobre a pele as marcas do apressado resgate. não fazia ideia de si. era no outro, ao alcance da mão, que se reconhecia.

cresceu sem água na torneira, ou ducha no banheiro. do olho d'água lhe chegava os goles. da cacimba e das chuvas os banhos. do recolhido nas bicas dos telhados, a alvura dos lençóis. da aurora, o véu sobre o corpo delineando contornos em espelho de cristal. 


sexta-feira, 7 de abril de 2017

Acalanto de Primavera



Aos
anjos de Khan Sheikhoun


alegria suspensa, por Sergia A.




Velo teu sono, ó lua! Clamo por teu nome, ó adorado! quem te trouxe a mim em dias de vida suspensa? abrigo-te dos roncos que inquietam a inocência. amparo-te na certeza das paredes intactas, ou do sangue que não se esvai. 

sopra a brisa e juntos respiramos o medo, disfarçado de alívio. inspiramos o silêncio que sufoca o ar, exalando a noite sobre a manhã de abril.