O tempo não é uma ilusão.
Ele existe e está realmente avançando.
[Marina Cortês, física da universidade de Edinburgo,
em entrevista para BBC]
máquina do tempo, por Sergia A. |
Precisei recorrer a alguns conceitos da física para me certificar da direção da seta do tempo diante do movimento retrógrado que inverteu nossos passos na trajetória. A epígrafe resume o pensamento dos que acreditam que o universo é feito de uma série de eventos únicos, e por não se repetirem só podem influenciar os eventos seguintes dando ao tempo uma direção: o futuro. Há controvérsia. Há os que negam a ideia da "flecha do tempo". Mas essa não é a minha questão. Falta-me conhecimento para discuti-la. Quero apenas uma tábua de salvação. Algo que me tire da angústia de acordar todos os dias com uma nova sensação de dejà vu.
Mergulho nesta onda incômoda para trazer à tona o real.
Vivi a adolescência durante a última década da ditadura militar brasileira. O ano de 1975 arrastou-me para a capital para fazer o ensino médio (ou segundo grau, para ser fiel à nomenclatura). Não tinha consciência do que acontecia ao meu redor, além dos homens de verde preenchendo esquinas. Uma palavra ou outra que escapava do burburinho dos adultos, sussurrado entre paredes, despertava pequenas faíscas que só mais tarde acenderiam. Uma Lei de 1971 havia imposto o ensino profissionalizante obrigatório, depois de uma Constituição que eliminava a exigência de um gasto mínimo em educação. Algo me diz que, neste ponto, qualquer semelhança com o que ocorre no tempo presente já não parece ser apenas uma sensação de dejà vu. Ganha status de modus operandi.