Mas o que acontecerá, se a missão de um homem exige
que ele só conheça o vínculo com sua causa, e então
desconheça qualquer relação atual com um TU e a
a presentificação do TU, de modo que tudo aquilo que
o envolve se torne um ISSO, um ISSO útil à sua causa?
(Martin Buber in Eu e Tu, trad. Newton Aquiles von Zuber)
O diálogo não é a conversa entre iguais, não é apenas uma fala
complementar, mas a conversa real e concreta entre diferenças
que evoluem na busca do conhecimento e da ação que dele deriva.
(Marcia Tiburi in Como conversar com um fascista - Revista Cult)
o céu na minha janela, por Sergia A.
Depois de alguns dias de desânimo, pulei da cama. Contra todos os argumentos do meu corpo levantei e mostrei a ele outra possibilidade, além do medo. Pus o maiô, peguei minha sacola e sai mastigando uma barra de cereal. Cinquenta minutos de braçadas, meus músculos pedindo colo, aproveito a fluidez da água para fazer alongamentos e exercícios de respiração. O silêncio interior amplia os ouvidos. Escuto a algazarra das crianças a algumas raias de mim. Meninos entre oito e doze anos, no máximo, decidindo por um jogo aquático que encerraria o treino. A professora propõe:
- Marco Polo ou Voleibol?
- Marco Polo, gritam três.
- Voleibol, gritam os outros dois.
- Decidido! diz a professora já se organizando para iniciar o tal Marco Polo. Eis que um deles diz com voz de choro carregada de mágoa:
- Ah! tia assim não vale! já foi Marco Polo na aula passada!
Ela se aproxima dele, chama-o pelo nome, olha nos seus olhos e diz com voz afetuosa:
- meu filho, fizemos uma votação e a maioria decidiu por Marco Polo, vamos respeitar? Na próxima, quem sabe...
E o jogo prosseguiu com muita alegria. Sai da piscina sentindo uma leveza que parecia não ter origem apenas no elastecer das minhas articulações viciadas.