Sobre todo creo que no todo está perdido
Tanta lágrima, tanta lágrima y yo, soy un vaso vacío
Oigo una voz que me llama casi un suspiro
Rema, rema, rema-a Rema, rema, rema-a
(Jorge Drexler, in Al otro lado del rio)
o verde-amarelo e o rio, por Sergia A.
Não é segredo: adoro filmes e livros. Vivo tentando decifrar os seus códigos. Assim é que chego a uma das cenas mais significativas do filme Diários de Motocicleta (Walter Salles, 2004). É noite, a personagem Ernesto, um estudante de medicina, faz uma travessia para o lado do rio em que se encontram os doentes, os intocáveis. O filme trata da viagem iniciática de Ernesto Guevara e Alberto Granado, e esse é o ponto da epifania. O ponto em que ambos reconhecem o seu estar no mundo. Há uma luz do outro lado que os chama. A travessia a nado é representação da escolha, e essencial para compreensão do que aconteceria em suas vidas futuras que o filme não aborda.
Por favor não fuja, caro(a) leitor(a)! esta não é uma defesa anacrônica da revolução proletária. Assim como a não é o filme. É apenas uma forma de tentar entender o momento atual e o papel de pessoas que deram a vida por uma causa, como Cristo, como Gandhi, como Joana D'Arc, como Martin Luther King e tantos outros. Condena-se a violência como componente da escolha de Ernesto. Certo, inquestionável e, principalmente, não aplicável para o grau de civilização que alcançamos. Mas da sua causa existe um legado que me faz esquecer, por um instante, os seus pecados. Legado que tem início exatamente na travessia retratada na cena: a escola de medicina cubana. Sim essa mesma escola que espalha médicos pelo continente africano, pelos pontos extremos do Brasil, pelos lugares onde não chega a medicina de ponta ou financiada pelos grandes laboratórios e indústria de equipamentos. Sim aquela medicina, hoje reconhecida por entidades internacionais, foi um projeto de Alberto Granado Jimenez, o companheiro de Ernesto na viagem pela américa do Sul e de cujo diário (Con el Che por Sudamérica, 1978) o filme é tradução.