terça-feira, 12 de maio de 2015

Geometria do olhar


Ficamos espremidas diante da janela estreita, à espera do elevador. Um ponto branco macula o azul. É, então, que ela preenche meus olhos e ouvidos com coisas sem sentido:


ponto branco sobre fundo azul, por Sergia A.


A cidade moderna recorta o céu para dar à luz minha janela distraída. Faz pouco caso da lua e da sua insistência milenar. Partida ao meio, ela alcança lugar ao sol. Ainda que reclame sua ausência para se fazer notar.

A cidade antiga treme ao pé da montanha. Esfuma os recortes pontiagudos do céu para olhos de caminhantes distraídos. Faz pouco caso do seu altivo caminhar. Sem molduras para pedaço de lua, por inteiro, refaz-se o olhar.

segunda-feira, 4 de maio de 2015

Entre surpresas e suspeitas


The old believe everything; 
middle-aged suspect everything; 
the young know everything.

Oscar Wilde in Phrases and Philosophies for the Use of the Young (1894)           


o vento, por Sergia A.


A juventude me desperta um misto de inveja e admiração. Não apenas pelo viço ou beleza, mas sobretudo pela coragem. Pela fé no que virá, pelo futuro prenhe de realizações. Talvez, por isso suas manifestações sempre prendem a minha atenção. Nas artes, nas ciências ou na política. Não por acaso, três meninos me surpreenderam nos últimos tempos. Não fiz nenhuma pesquisa, seleção ou julgamento. Foram os ventos dos nossos dias que os trouxeram até mim, e acenderam aquela luzinha chata, que fica piscando até que as palavras se juntam na tela tentando fazer algum sentido. 

sábado, 2 de maio de 2015

Das coisas permanecidas

versão para cozinhas:


urgência



a COZINHA de laterais abertas
tinha cheiro de LIMÃO 
FLOR de laranjeira
o verde ESPINHENTO dos galhos 
no ALPENDRE a preguiçosa ESPERA
o CAFÉ a lenha trepidante no FOGÃO:
FOGO que transforma
chama que não se APAGA.