quinta-feira, 26 de março de 2015

Do que estamos falando quando falamos de corrupção



Esperança não significa uma promessa. 
Esperança significa um caminho, 
uma possibilidade, um perigo. 

Edgar Morin 


o broto, por Sergia A.


Crueldade. Qualidade de cruel, diz o dicionário. Cruel. O mesmo que insensível, que gosta de fazer o mal. Escolho o Insensível. Custa-me crer que alguém, dito são, pratique maldades por gosto. Talvez um gosto demasiado por agradar a si mesmo, ao ponto de tornar-se insensível. O outro deixa de existir. Estou no mundo para ser feliz e quero o que é meu. Pouco importa que meios se farão necessários para que ‘o que é meu’ o venha a ser de fato. Isso, de alguma forma, explica o movimento ganancioso do mundo. A indiferença. Raiz da crueldade humana. É o que me vem à mente quando ouço discursos, e leio slogans de  campanhas anticorrupção. Ou, sempre que penso no grande mal que nos afasta da construção do bem comum.

quinta-feira, 5 de março de 2015

Das coisas imprevisíveis


queria fechar-se inteiro num poema
lavrado em língua ao mesmo tempo plana e plena

(Herberto Helder in A Morte sem Mestre p.30)



janela para tardes douradas, por Sergia A.


Às vezes o mar me inunda de azul, ela dizia enquanto ajustava a câmera. O foco nas ondas. As ondas batendo forte sobre pequenos barcos. A água perdendo o azul. Corpo e lentes se dissipando na aquarela estendida no horizonte. O tempo  se repartindo em clicks e gotas ao vento. O excesso de luz dissolvendo cores, até que o dia, o horizonte e o corpo mergulhassem, de vez, na luminosidade do branco. Cabia a mim encontrar refúgio para o silêncio que a tormenta exigia.