domingo, 25 de outubro de 2015

Risco


(…) Se me observo, “eu é um outro".

(Gaston Bachelard in Direito de Sonhar)



janelas na janela, por Sergia A.



ela na janela 
assume o risco de se ver
em outras janelas

quinta-feira, 22 de outubro de 2015

Cartas da Itália: Verona



Essa cidade que não se elimina da cabeça é como uma armadura ou 
um retículo em cujos espaços cada um pode colocar as coisas que 
deseja recordar: nomes de homens ilustres, virtudes, números, 
classificações vegetais e minerais, datas de batalhas,
constelações, partes do discurso. Entre cada noção e cada ponto 
do itinerário pode-se estabelecer uma relação de afinidades ou 
de contrastes que sirva de evocação à memória. 

(personagem de Italo Calvino, in Cidades Invisíveis - trad. Diogo Mainardi)


o rio, por Sergia A.



Verona, 30/09/2015


Querida L.


Alugamos um pequeno apartamento para sentir os ares desta cidade por uns dias. Como em toda escolha, experimentamos o lado bom e o ruim. Carregar malas escadas acima foi a má surpresa da chegada: prédio sem elevador, mama mia! Por outro lado estamos, praticamente, às margens do Adige com duas belas pontes à nossa disposição para alcançar o centro histórico. Na primeira travessia recebi a graça de ser saudada por essa luz, que a câmera ligeira do iPhone tenta captar.


o amor, por Sergia A.


Como na cidade descrita por Marco Polo de Calvino, por aqui também cada um escolhe que relações estabelecerá entre espaço e memória. Muitos apostam no nome de Shakespeare, disputas de poder entre familias, amores belos por serem impossíveis para marcar a lembrança de sua passagem. Deixam seus registros no portal de acesso à residencia da familia cuja lenda inspirou o bardo. Para esses a 'Casa de Julieta' é parada obrigatória. Outros, sua história milenar, invasões, reconstruções, e as formas encontradas nos resquícios da arquitetura romana que a cidade preserva na grande arena e em seus subterrâneos. 

segunda-feira, 12 de outubro de 2015

Cartas da Itália: Santa Margherita Ligure



estação, por Sergia A.


"Poderia falar de quantos degraus são feitas as ruas em forma de escada, da
circunferência dos arcos dos pórticos, de quais lâminas de zinco são recobertos os
tetos; mas sei que seria o mesmo que não dizer nada. A cidade não é feita disso, mas
das relações entre as medidas de seu espaço e os acontecimentos do passado."


(personagem de Italo Calvino em Cidades Invisíveis, tradução de Diogo Mainardi)


Santa Margherita, 27/09/2015


Querida L.


Encontrei um local de remessas postais como antigamente. Comprei cartões, e prometo que vou enviá-los. No entanto, vou continuar te escrevendo por aqui sempre que algo me toque a alma e consiga ser traduzido por palavras. Adorei ver vocês três juntinhas nas fotos. Pena que eu não estivesse aí para abraçá-las e ser um rosto a mais no cantinho que sobra.

Desde que decidimos que seria mais cômodo largar o carro em Milão, minha vida tem sido um sobe e desce de trens e mais correria pelas estações, com folgas de poucos dias nos lugares que queremos ficar. Santa Margherita é um deles. As cores, as águas, os passeios pela encosta, e os cheiros exalados pelas cozinhas me encantam. Embora seus desníveis sejam cruéis para pernas sem o hábito das ladeiras. Mas, como bem dizem as palavras que me guiam, não é só isso que faz uma cidade. 



encosta, por Sergia A.

sábado, 10 de outubro de 2015

A hora do meio



silêncio, por Sergia A.


A tarde se ergue em corredores silenciosos. Como resposta que não veio. Abrigando entre páginas do solitário labirinto os corpos perdidos. 

Escoltados pelo medo do inevitável encontro, jazem esquecidos de si mesmos. Esculpidos no vazio que se ergue entre corredores no meio da tarde.