segunda-feira, 20 de abril de 2015

Mediterrâneo


Este é, nas palavras mais simples e directas que pude encontrar,
o quadro do que aconteceu aqui. Não sei que mais poderia dizer. 
Hoje faltam-me as palavras e sobram as emoções. Até quando?

(José Saramago, in A morte à porta de casa/ outros 
cadernos de Saramago, 16/02/2009)



entre terras do mesmo mundo,  por Sergia A.


líquida fronteira 
de terras endurecidas: 
porto derradeiro?

terça-feira, 14 de abril de 2015

Repetindo tardes



O rio que fazia uma volta atrás da nossa casa era a 
imagem de um vidro mole que fazia uma volta atrás 
de casa.
Passou um homem e disse: Essa volta que o 
rio faz  por trás de sua casa se chama enseada.
Não era mais a imagem de uma cobra de vidro que
fazia uma volta atrás da casa.
Era uma enseada.
Acho que o nome empobreceu a imagem.

(Manoel de Barros, in Uma didática da invenção XIX,
O livro das ignorãnças p.14)




Minha janelea e eu,  por Sergia A.


A nuvem que avançou sobre minha janela, em uma tarde de abril, era a imagem de uma onda gigantesca. Ali, pronta para me envolver em seu túnel d'água assustador. Nada mais me restava, senão o registro do assombro.

O professor examinou a imagem e, do alto de sua sabedoria, afirmou: Nuvem Prateleira, é a classificação.

Já não era mais o mar enfurecido que por um instante visitou minha janela. Era apenas uma prateleira prenunciando o temporal. 
Prateleira? Há que se repetir o desencanto do poeta:  Acho que o nome empobreceu a imagem

sábado, 4 de abril de 2015

Páscoas


As pontes têm que ser refeitas
e também as estações
De tanto arregaça-las, 
as mangas ficarão em farrapos.
(...)

Na relva que cobriu
as causas e os efeitos
alguém deve se deitar
com um capim entre os dentes 
e namorar as nuvens

(Wislawa Szmborska, in Fim e começo – Poemas p. 92/93
tradução de Regina Przybycien)


embalagem recortada (CartonDruck para Natura - Pomar de cítricos)


A cozinha de laterais abertas tinha cheiro de limão e flor de laranjeira. Árvores espinhentas abusando do verde que se derramava sobre o alpendre. Peitoril largo alongando a preguiçosa espera. O café na caneca de ágata. A goma fresca a tapioca. O fogão à lenha. O fogo que não se apagava. Mulheres empunhando a dança das mãos-de-pilão alucinadas, para meu deleite.