Bato à porta da pedra.
- Sou eu, me deixa entrar.
Não busco em ti refúgio eterno.
Não sou infeliz.
Não sou uma sem-teto.
O meu mundo merece retorno.
Entro e saio de mãos vazias.
E para provar que de fato estive presente,
não apresentarei senão palavras,
a que ninguém dará crédito.
(Wislawa Szymborska, in Conversa com a pedra
Poemas p.33, tradução Regina Przybycien)
Verde sobre fundo desfocado, por Sergia A.
Ele achava que sua vida toda fora um quase. Quase ganhara uma bolsa de intercâmbio, quase se formara em medicina, quase ganhara um concurso de contos, quase vivera um grande amor, quase, quase vira o seu país encontrar a terceira via finalmente. Assim quase sempre, quase lá. Por um ponto, por um ano, por meio ponto, porque o trem partiu antes da hora e o destino não lhe deu tempo de abrir a porta, porque as elites (internas e externas) reagiram ao incômodo. Entre quases, descobriu sua verdadeira vocação: cultivar Ses.