CLEOPATRA:
Nay, ‘tis most certain, Iras, Saucy lictors
Will catch at us like strumpets, and scald rhymers
Ballad us out o’tune; the quick comedians
Extemporally will stage us and presente
Our Alexandrian revels; Antony
Shall be brought drunken forth, and I shall see
Some squeaking Cleopatra boy my greatness
I’th’ posture of a whore. [1]
(Shakespeare in Antony and Cleopatra – Act V, Scene 2)
Dissonantes? por Sergia A.
Acordamos cedo e partimos. Coração expandindo o peito dividido entre a felicidade daqueles dias e a ansiedade de voltar pra casa. Um turbilhão de sentimentos em cada curva da estrada que nos conduz a Stratford-upon-Avon. Último pouso daquela temporada. Chuva e um sol tímido se alternando no vidro da janela. Os olhos, mergulhados na atmosfera dourada do outono, não dão conta do tempo. Um teatro à nossa espera. Um sinal. Apagam-se as luzes laterais. Ilumina-se o palco. A percussão do britânico de origem nigeriana Akintayo Akinbode acende a curiosidade. Cantos e passos afro-caribenhos despertando espantos.
Sim, por mais espantoso que possa parecer, o Haiti é aqui. No cenário. No figurino. Na música que intercala cenas. Na pele propositadamente não embranquecida de Cleópatra. Um salto de espaço e tempo. Trocam-se as areias do Egito antigo pelas praias de Saint-Domingue no século XVIII, às vésperas da rebelião. Uma ousada moldura para o texto original que se adapta mas não se altera. Romanos e egípcios divididos entre o amor e a guerra, a conquista e a humilhação imposta ao conquistado. A morte como redenção. Uma moldura para o pensamento provocante do diretor norte-americano Tarell Alvin McCraney que dividiu críticos e amantes da obra de Shakespeare.