segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Pensamentos bobos às vésperas do Carnaval


Se acaso meu bloco
Encontrar o seu,
Não tem problema,
Ninguém morreu.
São três dias de folia e brincadeira,
Você pra lá e eu pra cá,
Até quarta feira.

(Marchinha de carnaval Até Quarta-feira)


O amarelo e o lilás, por Sergia A.



Um dia desses uma amiga me disse que o primeiro grande impacto percebido depois da separação foi a quantidade de tempo que sobrou pra ela. Assim mesmo, "sobrou", porque em um relacionamento o cuidar de si mesmo parece se submeter sempre ao tempo dos dois. Meses depois outra amiga, entusiasmada por organizar sua nova vida a dois, se desculpou pela falta de tempo, dizendo que quando tivesse o seu tempo privado de volta... E eu pensei, mas não tive coragem de dizer, que ela esquecesse essa história de tempo privado. É natural. Um projeto a dois tende a absorver todo o tempo do um.

Aí, chegam aquelas ideias bobas chacoalhando o pensamento, embaladas por uma antiga marchinha de carnaval. Do tempo em que o compromisso de namoro era suspenso por três dias para preservar a individualidade nos dias de folia. Na quarta-feira, quando se desfazem as fantasias, tudo pode retomar o seu lugar. Afinal, na dura realidade das manhãs, a maioria das pessoas acredita ser apenas uma metade. O complemento está no outro, que precisa ser encontrado. O Mito do Andrógino explica bem essa busca por plenitude. Andróginos eram seres completos, parte homem parte mulher. Sua felicidade atraiu a fúria de Zeus que os cortou ao meio. Incompletos são condenados a procurar eternamente a totalidade perdida. 

domingo, 16 de fevereiro de 2014

De passagem


Esse mundo não é meu
Esse mundo não é seu.
 
(Arnaldo Antunes/Branco Mello in Eu não sou da sua rua)

 


Quintal, por Sergia A.


A chuva cai torrencialmente lá fora. Ligo a TV e desligo em um segundo. Incomoda-me a mesmice exacerbante. Filósofos, antropólogos, sociólogos, juristas, jornalistas descobrindo palavras que acobertem suas visões. A polícia tem pressa em fechar o inquérito e vir a público justificar sua existência. Afinal o quarto poder foi duramente atingido e fala-se em cerceamento à liberdade de expressão. E eu aqui, que nada sou, fico ruminando. De perplexos passamos a inteiramente confusos. E o tempo continua prenhe de interrogações.
 
A esperança dá sinais de cansaço. Mortes, ônibus incendiados, patrimônio público e privado (bancos, principalmente) depredado a olhos vistos. E o que vemos choca. O que não vemos cochila nas estatísticas como resíduo que a desigualdade social nos impõe. Por que vamos às ruas com tamanha brutalidade? Que motivos nos levam ao enfrentamento se vivemos uma democracia?

sábado, 8 de fevereiro de 2014

Quem tem medo de Sylvia Plath?

      
 Axes                                               
  After whose stroke the  wood rings
And the echoes!                              
Echoes traveling                             
Off from the center like horses.      

(Sylvia Plath, in  Words, 1963)  

Noite adentro,  por Sergia A.
                         

Vento forte no vidro da janela. Um céu nublado, trovoadas e Sylvia Plath ao meu alcance. Uma pequena seleção de poemas que me acompanhou na viagem de volta no ano passado. Meses depois a devoro aos pouquinhos. Como se faz com a porção de doce permitida nas dietas. Claro que posso abocanhar, no meio da noite, outras porções em websites a ela dedicados. Mas, não devo exagerar. Além disso, ainda gosto do cheiro de livro. É preciso tê-lo na mão para sentir o seu peso. Carregá-lo comigo como se aquilo tudo me pertencesse, ainda que por instantes. E aqui ele está, escorrendo por entre dedos como a chuva lá fora.