It's not whether you win or lose, it's how you place the blame
(Oscar Wild, retirado de The Wild Wit of Oscar Wilde)
sol do equador, por Sergia A.
Foi só terminar a apuração, começou a zoeira. Eleições polarizadas. Divisão. Culpa daqui. Culpa de lá. Twitter. Passagens para Miami. Facebook. Xingamento. Xenofobia. Instagram. Grosseria. Piadas. Um escarcéu. Ah! Eu precisava, urgentemente, de uma tela em branco... As teclas ali, ardendo entre meus dedos... A sonoridade da palavra zoar... o telefone toca... Ela (uma eleitora indecisa) me conta uma historinha. Pronto. Nada melhor que a ficção para afastar maledicência:
Noite de domingo. Ela, aflita em frente a TV, toma um gole de água. Horário de verão. Três fusos dividindo o país e adiando o resultado da eleição. Um canal de TV a cabo. Comentaristas a postos. A Rede G. se afirmando porta voz do desejo nacional. Em jogo o sonho de um país moderno. Liberal. Credibilidade para o capital financeiro retornar. Nos intervalos, o sobe e desce do dólar. A bolsa de valores em queda. O país precisa crescer, repetiam em tempo cronometrado para convencer a audiência.
19h. Horário de Brasília. Computados os votos do centro/sul/sudeste. Divulgação oficial não liberada. Explicava em tom professoral, a cada segundo, a Sra. R.:
- O norte ainda vota. O nordeste está encerrando.
A tela aberta esperando dados prometidos para as 20h de Brasília. Afundada na poltrona, Ela percebe uma agitação na bancada. A câmera desvia para votos de governador. O Sr. M. desaparece. Retorna com um semblante mais sereno. Talvez tenha ido ao banheiro, Ela pensa. Acentua-se a ênfase no Brasil moderno. Ela tem um pressentimento. Pega uma maçã. Precisa mastigar. O sr. M. não se contém e dispara:
- O Sr. F. e o Sr. G. estão se dirigindo ao aeroporto rumo a BH. Não sei que informação tiveram.