We’re tired of being white and we’re tired of being
black, and we’re not going to be white and we’re
not going to be black any longer. We’re going to be
voices now, disembodied voices in the blue sky,
pleasant harmonies in the cavities of your distress.[1]
(Leonard Cohen, in book of longing p.124)
|
No Museu, por Sergia A. |
Palavras. Às vezes as encontro nos lugares mais inusitados. Às vezes elas caem no meu colo, assim do nada como se aflitas procurassem abrigo. Às vezes vem em imagens. Às vezes escapam no último momento, deslizando entre as pontas dos dedos e o teclado. Por isso os dedos tateiam outras margens. E é assim que encontro nos portais de notícias, o tributo ao grande guerreiro da paz (sic! Até aquela asquerosa revista usou este clichê, mas na falta de substituto à altura fica assim mesmo. Ele é unanimidade!). Pois não é que lá estão eles, no mesmo avião, prontos e compenetrados para dar o ar da sua graça no evento.
A imagem deixa minha mente em polvorosa. José Sarney, Fernando Collor de Melo, Fernando Henrique Cardoso, Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff reunidos no mesmo avião. O que isso tem a ver com Nelson Mandela? O que disseram um ao outro durante as longas horas de voo? Uma possibilidade: Nada. Certamente tomaram remédio pra dormir. Não havia o que dizer. Sobra em Mandela o que está em falta por aqui. Humildade, compromisso e dignidade, por exemplo. Mas o problema parece não se restringir ao espaço brasileiro. Lá estavam todos os homens/mulheres de boa vontade. Entre eles David Cameron, a bela Helle Thorning-Schmidt e Barack Obama – ovacionado, por sinal. E então, depois do discurso, em que alfineta a postura incoerente de líderes presentes, esquecendo-se do seu próprio umbigo, se comporta como um adolescente ao se descobrir o mais popular da escola. Michelle que o diga.