domingo, 21 de abril de 2013

Entre margens



Há coisas que não precisamos pensar nem decidir para fazer,
como se não apenas o mundo e o tempo, mas uma coisa nossa
lá dentro nos obrigasse sem nada consultar, e assim se faz sem
perceber, talvez sem querer. E imerso nesses devaneios o
caminhante viu-se sozinho novamente.

(Adriano Lobão Aragão in Os intrépidos andarilhos e outras margens)



Migrante,  por Sergia  A.




A chuva cai torrencialmente lá fora.  Tenho certo gosto por ouvi-la batendo forte no vidro da janela. Algo em mim desperta. Nada me remove da maciez em que me afundo. Elas entram sem bater. Abrigo-me confortavelmente entre elas. Adoro esses dias, agora que o tempo permite que eu me perca e me encontre entre suas margens com frequência. E elas me acertam a alma em cheio! Avanço em suas páginas. Distraio-me olhando fixamente o marcador.

É estático o sorriso na fotografia. Estão felizes em seus momentos distintos, embora aparentemente vivessem o mesmo instante. Há promessas de futuro no viço de suas peles e uma urgência sem tamanho no brilho dos seus olhos. Há caminhos à escolha. Cheias de certezas vãs, impulsivas, talvez: escolhas. Vidas que delas se desdobram. Tão vasto é o mundo! Tão largos os seus oceanos! Onde mesmo que se guardavam suas margens secretas?

Com fortes tecladas atravesso a linha e inicio o retorno. Bato à porta sem pensar. Há um sorriso à minha espera do outro lado, se uma página em branco não me afogar.

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