O vento soprava frio na varanda que amanheceu sem sol. Sou assim, passo mal e reclamo dos 40 graus, mas sinto nos ossos os 22 das manhãs que se seguem a noites chuvosas. Fugindo do vento na varanda, o café de domingo se resignou ao sofá da sala, ao lado de um sedutor controle remoto e uma tela magnética. Uma oportunidade de ver, nas sessões repetidas, Cameron Diaz compondo uma cena em que a personagem aprende a ler poemas seguindo a cadência de Elizabeth Bishop (1911-1979) em One Art, no drama hollywoodiano In her Shoes (Em seu Lugar, na tradução brasileira) do diretor americano Curtis Hanson (2005).
Foram-se seis meses do primeiro ano da segunda parte. Hoje meu delírio não nasce de uma experiência do laboratório, no entanto, de alguma forma, explica a minha vida dupla:
Atonement, by Joe Wright (2007)
Fonte: YouTube
Alguém disse certa vez que narrar é um exercício do perdão. Mais que redimir-se de uma culpa, de uma ofensa ou de uma dívida, o ato de narrar talvez se aproxime da busca de liberdade que só se realiza no percurso entre a mente que elabora o pensamento e a concretude da palavra que o liberta. Essa pode ser, por exemplo, uma leitura do livro Atonement, do escritor britânico Ian McEwan (2001), que na tradução brasileira recebeu o título de Reparação.