Vida, por Sergia A.
Fui surpreendida, um dia desses, por uma pergunta repentina que me veio assim, do nada. A surpresa maior não era o teor da pergunta, que por si só já seria o bastante, mas principalmente, o lugar inesperado de onde brotava. Uma voz meiga e delicada em sua forma doce de me olhar nos olhos, de repente me diz: “Por que a natureza nunca cansa de fazer o mundo?” A primeira idéia que me ocorreu como resposta foi o princípio de conservação da energia, que tentei arranjar em palavras simples para justificar o processo constante de transformação da natureza. Não sei se a resposta foi satisfatória, aliás, espero sinceramente que não tenha sido para que tamanha curiosidade continue expandindo sua mente questionadora.
Passado o sufoco, pensei que talvez tivesse sido mais fácil usar uma visão religiosa para explicar o movimento da vida, mas segui meu impulso de tentar encontrar respostas na natureza. Nesse ponto não pude deixar de associar a situação vivida ao filme The Tree of Life (2011), do cultuado diretor americano Terrence Malick (A Árvore da Vida, na tradução brasileira), que tinha visto algumas semanas antes, numa dessas tardes em que me dou de presente o direito de passar duas horas numa sala de cinema. Nesse horário nunca estão tão cheias. Por sinal, na metade do filme a sala estava vazia. Faltou aos meus companheiros de espetáculo a paciência que o filme exigia. Paciência para se permitir uma experiência sensorial ímpar proporcionada por imagens de rara beleza, pela música envolvente, pela atuação perfeita de seus atores e pela delicadeza do diretor que lança através de sua lente ambígua a interrogação sobre o quanto nossas vidas individuais ou a vida na Terra é moldada pela força da natureza e pela benevolência espiritual.