segunda-feira, 31 de outubro de 2011

A Natureza não Cansa de Fazer o Mundo?

 
Vida,   por  Sergia A.
 

Fui surpreendida, um dia desses, por uma pergunta repentina que me veio assim, do nada. A surpresa maior não era o teor da pergunta, que por si só já seria o bastante, mas principalmente, o lugar inesperado de onde brotava. Uma voz meiga e delicada em sua forma doce de me olhar nos olhos, de repente me diz: “Por que a natureza nunca cansa de fazer o mundo?” A primeira idéia que me ocorreu como resposta foi o princípio de conservação da energia, que tentei arranjar em palavras simples para justificar o processo constante de transformação da natureza. Não sei se a resposta foi satisfatória, aliás, espero sinceramente que não tenha sido para que tamanha curiosidade continue expandindo sua mente questionadora.

Passado o sufoco, pensei que talvez tivesse sido mais fácil usar uma visão religiosa para explicar o movimento da vida, mas segui meu impulso de tentar encontrar respostas na natureza. Nesse ponto não pude deixar de associar a situação vivida ao filme The Tree of Life (2011), do cultuado diretor americano Terrence Malick (A Árvore da Vida, na tradução brasileira), que tinha visto algumas semanas antes, numa dessas tardes em que me dou de presente o direito de passar duas horas numa sala de cinema. Nesse horário nunca estão tão cheias. Por sinal, na metade do filme a sala estava vazia. Faltou aos meus companheiros de espetáculo a paciência que o filme exigia. Paciência para se permitir uma experiência sensorial ímpar proporcionada por imagens de rara beleza, pela música envolvente, pela atuação perfeita de seus atores e pela delicadeza do diretor que lança através de sua lente ambígua a interrogação sobre o quanto nossas vidas individuais ou a vida na Terra é moldada pela força da natureza e pela benevolência espiritual.

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

sábado, 22 de outubro de 2011

Bonito Pra Chover


David Gilmour - Wish You Were Here, 2009
Fonte: YouTube




“So, so you think you can tell
Heaven from hell,
Blue skies from pain
Can you tell a green field
From a cold steel rail?
A smile from a veil?
Do you think you can tell?”
[1]



Quando a temperatura chega aos 40 graus (Celsius), meus delírios são de chuva. Desta vez acho que foram tantos os delírios que outubro enlouqueceu e fez-se água. Acordei na noite passada em meio a trovoadas bem características das tempestades tropicais na Chapada do Corisco. Já não eram apenas as gotas que cantavam na minha janela, eram cântaros que aliviavam nuvens pesadas. Como se diz no lugar onde nasci, onde a água vinda do céu é uma bênção, o dia estava bonito, bonito pra chover. Mas o trabalho me esperava e não havia outra saída senão enfrentar as ruas encharcadas, o trânsito lento e seus motoristas ensandecidos. Nesta cidade, que ama e odeia seu sol intenso, nunca estamos preparados para chuvas. O antídoto: a voz e a guitarra de David Gilmour no som do carro entoando Wish You Were Here (1975).

terça-feira, 18 de outubro de 2011

domingo, 16 de outubro de 2011

Às Seis

Para uma folha que se desprendeu

Luz Agonizante,  por Sergia A.


Às seis amanhece
a manhã doura a promessa do dia.
Às seis anoitece
a noite tece um manto escuro sobre a cor do dia.
Às seis um príncipio
a estrada, o horizonte
Às seis o perigo
na penumbra o desconhecido
Às seis o tênue limite 
a luz a sombra, o começo o fim.
Às seis horas da tarde
agoniza a luz, cumpre-se a promessa
fim?

(Escrito em out/1998)

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Entrelinhas


Recorte sobre Poema de Emily Dickinson (1830 -1886)


Fria tecla distante
Toca entre linhas o gesto
Da alma viajante.

***

Tradução

Uma possível tradução do poema de Emily Dickinson, de onde foi retirado o recorte:

Não posso ser sozinha -
Pois Multidões vêm até mim,
Companhia sem Anúncio
Que as Chaves dispensa.

Eles não têm Mantas, nem Nomes –
Nem Almanaques, nem Clima,
Mas Lares comuns
Como Gnomos

Sua Vinda, pode ser prevista
Por Guias em mim contidos
Não sua partida
Por nunca se terem ido.

(Tradução: Sergia A.)

sábado, 8 de outubro de 2011

Da série O Laboratório: A Ordem do Caos


Foi-se o segundo mês do primeiro ano da segunda parte. Daí a lembrança:


I, Robot  (Eu, Robô, na tradução brasileira)
por Alex Proyas (2004) - Fonte: YouTube


Dezembro mal havia começado e o corre-corre das contratações já se anunciava pelos corredores, salas de atendimentos e mesas de gerentes. Os telefones celulares, com seus toques infernais, traziam uma valiosa contribuição para a loucura geral que tomava conta do ambiente. Em meio àquele frenesi chamava a minha atenção uma cena no mínimo curiosa: em torno de uma das mesas de gerente uma autoridade e seus assessores, cada um portando o seu acessório tecnológico de última geração e fazendo questão de usá-lo com entusiasmo. Todos ao mesmo tempo tratando de suas urgências individuais embora, ao que se conste, estivessem ali para discutir as inúmeras pendências a serem resolvidas antes da assinatura do contrato de interesse de todos.

A cena grotesca já durava um bom tempo. Quando um encerrava a chamada acendendo um brilho de esperança, o outro berrava o hit do momento sinalizando a urgência, como urgentes parecem ser todos os assuntos dos nossos dias. Fiquei, da minha posição estratégica, a me perguntar onde foi parar o ideal iluminista de desenvolver o conhecimento e o pensamento crítico em prol da liberdade de se fazer uso da razão. O que rapidamente me ocorreu como resposta foram os filmes de ficção científica, daqueles recheados de pesadelos tecnofóbicos, nos quais máquinas dominam os homens. Eu, Robô , produção americana de 2004 dirigida por Alex Proyas, é um bom exemplar do gênero. Baseado nos contos de Isaac Asimov e trazendo outras referências do universo cultural ocidental quanto ao desejo de domínio da criatura sobre o criador, o filme explora as possíveis contradições nas “Leis da Robótica” de Asimov,

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Primavera Tropical


A Cor do Viço,  por Sergia A.


Surge em fúria ardente
A primavera sutil:
Um viço latente.


terça-feira, 4 de outubro de 2011

Lobos que Habitam em Nós


Liebestod  in Tristan und Isolde de Richard Wagner
por Waltraud Meier  - Teatro Scala Milão, 2007
Fonte: YouTube

No lugar onde nasci corriam lendas assustadoras. Era um tempo em que os adultos ainda sentavam na calçada para contar histórias, escutadas por corações aflitos. Ainda assim, ouvidas e internalizadas. Cresci dando como certo que a irmã mais nova de sete donzelas era marcada por uma triste sentença: ao fazer quinze anos viraria lobisomem nas noites de lua cheia. Cheguei aos treze anos com essa aflição entalada no peito. Era a mais nova de sete irmãs, todas ainda donzelas, e não era afilhada da mais velha, que seria a forma cristã de combater a maldição. Quantas noites de lua cheia insones, ouvindo os uivos distantes! Fui salva pelo gongo. Quando fiz catorze anos casou-se a irmã de numero três. Durante muito tempo acreditei que o casamento fora fruto da atenção dos céus a minhas fervorosas orações. Lembro disso agora ao ler o conto A Companhia dos Lobos da escritora britânica Ângela Carter, publicado no livro que faz uma revisão dos contos de fada: The Bloody Chamber , 1979 (O Quarto do Barba Azul na tradução brasileira).

O conto é uma recriação de Chapeuzinho Vermelho em que a personagem central, já não mais uma criança inocente, enfrenta com a rebeldia própria da juventude os dramas da adolescência e os medos que lhes foram incutidos pelos mitos e lendas da sua gente. Com uma narrativa em primeira pessoa do plural, a obra traz um narrador que tem o ponto de vista e a voz dos habitantes do mundo mágico onde a história se insere. Não à toa o recurso gráfico nos primeiros parágrafos do texto que utiliza letras grandes no início e vai reduzindo o tamanho até chegar à normalidade no fim do terceiro parágrafo quando descreve os olhos dos lobos e alerta para os sinais de risco.

sábado, 1 de outubro de 2011

Esperança

Promessa de Chuva,  por Sergia A.


Sinto ao longe o cheiro
Ouço em gotas teu cantar
Tal grão no canteiro.